Como seria um futuro console baseado na arquitetura ARM?

Visão geral

Há tempos, sugiro a “necessidade” de uma criação de plataforma de jogos especial, a qual seria centralizada em um hardware (console) baseado na arquitetura ARM, que por sua vez teria um sistema operacional baseado no Android e seria otimizado primariamente para a execução de jogos. Esta plataforma deverá dispor de uma loja online, que não só traria os principais títulos disponíveis para dispositivos móveis (tablets & smartphones), como também ofereceria jogos adaptados e otimizados para rodar com boa qualidade gráfica e ótimo desempenho.

Console Ouya.

Será que este novo console teria o seu espaço no mercado de jogos? Acredito que sim! Um dispositivo que represente o “meio-termo” entre os dispositivos móveis e os consoles clássicos, seria interessante se pudesse oferecer o melhor dos dois mundos: a disponibilidade dos jogos de smartphones para a tela grande, ao mesmo tempo em que entrega uma experiência mais próxima a aquela encontrada somente nos consoles de mesa!

Eis, a proposta do artigo deste mês: um ensaio de como seria este futuro novo console, baseado na arquitetura de processadores ARM.

A começar pelo hardware…

Se eu tivesse o “poder” de designar as especificações de hardware deste novo console, ele teria basicamente as seguintes definições:

  • SoC ARM octa-core baseada no design big.LITTE;
  • Pelo menos 4 GB de memória RAM LPDDR4;
  • GPU nVidia Tegra ou equivalente integrada ao SoC;
  • Armazenamento em flash a partir de 64 GB;
  • Suporte a conexão para redes 5G (opcional);
  • Wireless, conexão cabeada e Bluetooth;
  • Conexão HDMI e joysticks customizados.
nVidia Shield.

O SoC ARM deverá dispor de pelo menos 8 núcleos e ser baseado no design big.LITTLE; porém, os núcleos econômicos deverão ser baseados no ARM Cortex-A55, pois embora seja possível utilizar os poderosos ARM Cortex-A78, existe a necessidade de manter o baixo custo do projeto (senão, encareceria o dispositivo). Já os núcleos de alto desempenho deverão ser baseados no novo ARM Cortex-X1, que por sua vez é voltado para oferecer o máximo de performance e desempenho em detrimento ao consumo, já que o console é um dispositivo que será alimentado na tomada e não precisa de baterias. Pelo menos, em suas versões de mesa…

Em termos de memória RAM, 4 Gb até parece pouco, já que temos no mercado smartphones que oferecem até 12 GB. No entanto, devemos nos lembrar que estas especificações “de ponta” geralmente são oferecidas mais como força de marketing, sendo desnecessária para a grande maioria dos jogos. Para variar, o console deverá ser dotado de um sistema operacional otimizado, o qual certamente o tornará mais leve e consumirá menos recursos (estimo que 1 GB para o sistema seria o ideal). Por fim, este é apenas o requisito mínimo (se for possível acrescentar mais memória RAM sem aumentar o custo do equipamento). Na verdade, a maior preocupação deveria ser a banda de largura oferecida por estas memórias: de que adianta ter muita memória, se elas não oferecem uma boa taxa de transferência? Por isso, um design parecido com o Xbox 360 e o One original, os quais adotaram memórias EDRAM para acelerar o desempenho (mesmo em pequena quantidade) seria interessante para este novo console.

Quanto a unidade gráfica, a minha preferência recai para a GPU nVidia Tegra X1 ou superior, por oferecer uma performance de alto nível, se comparado com as demais GPUs disponíveis para os dispositivos portáteis. Tal como o ARM Cortex-X1 em relação as demais CPUs, as GPU nVidia Tegra maximizam a performance em detrimento ao consumo e ela se destaca por ser a 1a. unidade móvel a superar a capacidade de cálculo de 1 teraflops, segundo a própria nVidia! No entanto, pode-se perfeitamente considerar também as unidades Adreno, Mali e PowerVR, as quais certamente atenderão as necessidades destes novos consoles. Mas não adiantará muito adotar GPUs velozes, se as especificações técnicas das memórias RAM não tiver os requisitos necessários para alimentar o subsistema gráfico.

Em termos de armazenamento, por serem desenvolvidos e otimizados para smartphones, os jogos para portáteis geralmente não consomem muito espaço. Por isto, um console dotado de memória flash integrada com pelo menos 64 GB e uma boa taxa de transferência, deve dar conta do recado. Porém, não recomendaria a adoção de slots para cartões SD, pois apesar de ser uma maneira barata de adicionar mais armazenamento, poderia prejudicar a experiência de uso dos consoles (especialmente se forem adotados cartões de baixa qualidade), além de encarecer o produto final.

Em termos de redução de custos, parece um contra-senso adotar o suporte a conexões 5G (pois encareceria o equipamento), já que estes consoles em geral estarão situados dentro em residências com a disponibilidade de conexões WAN velozes e se conectariam as redes domésticas (seja via Wi-Fi ou Ethernet). Explico: o console também poderia se tornar um roteador 5G e compartilhar a conexão com os demais hosts, possibilitando integrar ferramentas para o seu gerenciamento. Assim, poderíamos evitar ter a experiência de jogo “atrapalhada” por outros usuários que estão utilizando a rede ao mesmo tempo, bastando apenas definir atributos para priorizar o tráfego em modo multiplayer (qualidade de serviço). De qualquer forma, este seria apenas um recurso opcional.

Ei, está faltado os joysticks!

Deixei uma sessão à parte para falar dos joysticks, pois eles merecem comentários à parte, por se tratarem de um componente essencial para o sucesso do novo console. A princípio (por questões de redução de custo), pode-se perfeitamente adicionar o suporte aos joysticks feitos para tablets e smartphones baseados no sistema operacional Android (já que o novo console também terá uma versão customizada deste sistema), ou suportar também os joysticks para consoles de mesa (Xbox e do PlayStation). Mas também não recomendaria, pois um joystick bem projetado e otimizado poderá entregar uma experiência muito melhor para o novo console em questão.

Joystick SN30 Pro.

Porém, seria mais interessante investir no design de um novo joystick, com dimensões pouco menores que os joysticks tradicionais (adaptados para mãos de mulheres e crianças) e com um visual bonito e agradável. Pessoalmente, gosto muito dos produtos da 8bit, com destaque para o modelo SN30 Pro, pois ele entrega um formato que não só permitirá executar jogos modernos em 3D, como também muito elogiado ao ser usado em jogos de luta e plataforma 2D.

Como havia dito, o novo joystick deverá ser customizado para oferecer uma ótima experiência em termos de design, conforto e jogabilidade, porém mantendo-se simples, funcional e com qualidade aceitável, para que possa manter o custo final mais em conta.

Público-alvo… diferenciado?

Apesar do público-alvo atualmente ser bastante diversificado, os consoles de videogames em geral são projetados para adolescentes e adultos do sexo masculino. Seus hábitos, costumes e padrões de comportamento, refletem bastante no design dos acessórios e no desenvolvimento de jogos: enquanto que os consoles possuem um visual mais hightech e futurista, os joysticks são dotados do tamanho ideal para caberem nas mãos de homens (sendo muitas vezes desconfortáveis para mulhere e crianças) e os seus jogos em geral, possuem temáticas e narrativas com maior ênfase no universo masculino: protagonistas fortes e durões, dotados de diálogos machistas e não raro, coadjuvantes femininas sendo representadas de forma bem “apelativa” (atributos físicos avantajados, complementados com roupas justas e decotes à mostra). Nem vou entrar em detalhes quanto as ofensas em jogos multiplayer…

Lara Croft (Tomb Raider).

Então, este novo console poderia ser mais voltado para o público feminino? Sim! Com um design dotado de um perfil minimalista, com detalhes estéticos mais suave e baseado em tons de cores mais leves, ele certamente iria atrair mais a atenção delas. Já em relação aos joysticks, o tamanho reduzido e a adoção de direcionais e botões mais leves (sendo projetados para o uso de unhas compridas), também ajudariam bastante na popularização da plataforma. Inclusive, estes atributos também facilitaria, muito a vida do pessoal de marketing para o anúncio dos produtos! Na pior das hipóteses, pode-se considerar um design mais unissex, se for o caso.

Diferente dos homens, as mulheres não se importam muito com certos aspectos técnicos referente aos jogos e seus consoles, como quantidade de teraflops, resolução em alta definição, taxa de quadros por segundo, qualidade das texturas e iluminação, entre outros atributos. Para ela, basta que os jogos sejam bonitos, coloridos e apresentem uma performance leve e fluída. Neste contexto, as especificações de hardware mais modestas do novo console não influenciará negativamente na escolha e aquisição do hardware. Um cenário parecido seria a escolha de carros: enquanto que homens se importam com a performance do veículo, as mulheres se dão por satisfeitas com carros 1.0 pequenos, confortáveis e econômicos!

E falando em jogos, a produção de novos títulos com temáticas e narrativas femininas já está acontecendo, com destaque para os jogos com personagens femininas fortes: Lara Croft (Tomb Raider), Aloy (Horizon Zero Down), Alyx Vance (Half-Life) e Faith Connors (Mirror’s Edge), entre outros. Também já temos jogos que permitem escolher o gênero dos personagens, definir atributos relacionados a jogabilidade e até mesmo dedicar árvores de habilidades & diálogos específicas para o sexo feminino! Por fim, sabendo que as mulheres em geral curtem gêneros mais variados (homens em geral se dedicam a jogos mais hardcores, como FPS, RPGs, esporte e corrida), toda uma nova linha de categorias de jogos poderiam ser repensadas!

Por fim, novas políticas o uso da plataforma em jogos multiplayer deverão ser repensadas, de forma a dar um maior poder de ação (e proteção) em prol do público feminino, com o objetivo de não só protegê-las, mas também tornar o ambiente mais agradável e acolhedor para elas (mesmo interagindo com os jogadores). Vale lembrar que nas mais recentes pesquisas de mercado, as mulheres já são a maioria no mercado de jogos, mas ainda assim sofrem com o “predomínio” do universo masculino dos jogos, especialmente no multiplayer, as quais são o alvo preferido de jogadores tóxicos.

Resumindo, não se trata de definir um console totalmente voltado específicamente para as mulheres, mas de torná-lo uma opção mais equilibrada, de forma que quebre o paradigma de plataforma voltada para o público-alvo exclusivamente masculino. Dêem mais poderes para as mulheres. Graças a elas, poderemos nos deparar com um novo cenário totalmente desconhecido, com particularidades muito interessantes e muitas possibilidades para serem exploradas! 😉

Jogos exclusivos: why not?

Apesar da proposta inicial de possibilitar executar os jogos de tablets e smartphones para a tela grande, com todas as adaptações e otimizações necessárias para garantir uma ótima experiência, os novos consoles baseados na arquitetura ARM poderiam dispor de títulos exclusivos para esta plataforma. Tais jogos deverão combinar a boa jogabilidade dos consagrados títulos AAA, ao mesmo tempo que oferecem gráficos bons o suficiente e por fim, preços mais acessíveis.

Oceanhorn 2: Knights of the Lost Realm.

A parte gráfica merece comentários adicionais. Em termos de resolução e taxas de quadro, os jogos deverão ser otimizados para rodarem na definição em Full-HD e em até 60 FPS, em vista das limitações de hardware do console. Para isto, o design deverá se valer de gráficos com estilos mais cartunescos e voltados para o uso de texturas mais simples e limpas, dotando de um visual mais rico e colorido. Bons títulos de jogos como Ashen, Bastion, Brothers: A Tale of Two Sons, Dungeon Hunter 5, Fortnite e Zelda: Breath of The Wild, entre outros, fazem o uso destes recursos e são belíssimos, não deixando nada a desejar em comparação aos tradicionais jogos AAA.

Mas infelizmente, a maioria dos jogos estilos cartunesco e voltados para dispositivos portáteis, é focada em uma experiência multiplayer. Não que eu seja contra este perfil de jogos, mas títulos com ênfase na experiência single-player certamente teria um bom espaço para este público-alvo, já que mulheres em geral, são mais reservadas.

Opa! Já temos consoles ARM!

Pois é. Ao contrário do que parece, o mercado já oferece alguns consoles baseados na arquitetura ARM. No entanto, praticamente todos eles FALHAM na abordagem em relação a plataforma! Eis, uma breve análise com as melhores opções disponíveis no mercado: o nVidia Shield, o Nintendo Switch e o Apple TV.

Nintendo Switch.

O nVidia Shield seria a melhor das três opções, por ser desenvolvido e lançado por um fabricante que é atualmente a líder do mercado no segmento de placas gráficas. O seu console possui um belo design, dispõe de um joystick funcional e por fim, possui uma boa loja. Porém, a nVidia falha grotescamente ao dedicar a sua plataforma para o uso geral, através de instalação e uso de apps para TV. Em relação a jogos, ela divulga que o dispositivo é projetado apenas para o uso em streaming local (utilizando um PC desktop com placas da nVidia) ou via Internet (através do serviço Geforce Now). Uma breve análise da página oficial do console, a impressão que se tem é de que a execução local de jogos é o que menos importa. Nem uma seção dedicada para o seu joystick sequer existe!

Já o Nintendo Switch é um produto mais bem elaborado, entregando uma boa plataforma alternativa de jogos. Porém, ele não algo que se possa chamar de console de mesa (embora ofereça um doc para conectá-lo a uma TV), é uma plataforma bem mais cara (tanto o console, quanto os acessórios e seus jogos) e por fim, entrega toda uma filosofia de jogos & entretenimento diferenciada (apesar de ser compatível em diversos aspectos), se comparado aos tablets & smartphones como plataforma de jogos. Por fim, são poucos os jogos portados do Android (que eu saiba) e até o presente momento, a única maneira de rodar estes jogos é através de hacks, no qual uma versão do sistema roda a partir de cartões de memória.

Por fim, temos o Apple TV, que apesar de possuir um bom potencial para rodar jogos de tablets & smartphones (pois muitos títulos possuem versões para o iOS, o sistema operacional da Apple para estes dispositivos), também apresenta os mesmos problemas de abordagem da nVidia, ao dedicar a plataforma para o uso geral ao invés do uso como plataforma de jogos. A Apple até possui uma vantagem, por não só oferecer jogos para o dispositivo, como também o serviço de assinatura Apple Arcade, o qual o usuário paga uma taxa para ter acesso ilimitado a uma determinada coleção de jogos (bem parecido com o Game Pass do Xbox). Porém, ela peca por não disponibilizar um joystick oficial (e o Nimbus+ é caro demais), tornando a jogabilidade dos títulos limitadas, ao ter que utilizar a própria interface de interação do controle remoto como joystick, que por sua vez não foi projetado para jogos mais complexos.

Quanto aos demais consoles baseados na arquitetura ARM disponíveis no mercado, nem vou perder tempo para fazer comentários mais detalhados. Em geral, são de qualidade duvidosa (especialmente o joystick), não possuem um bom poder de processamento e se limitam a executar os jogos da Google Store ao invés de ter a sua própria loja (e mesmo assim quando tem, são pobres em disponibilidade de jogos e outros recursos). Para variar, muitos dos jogos suportados nem sequer são compatíveis com os controles dedicados, obrigando o usuário a fazer mapeamento e outras adaptações necessárias para poder curtir os jogos. No máximo, só servem para rodar emuladores e olhe lá…

Considerações finais

A idéia de dispor de um console de vídeogame baseado na arquitetura ARM não é nova e bastaria apenas uma simples pesquisa com uma ferramenta de busca qualquer, para encontraremos uma série de dispositivos do gênero. Porém, além das limitações de hardware que já conhecemos e do pobre suporte em termos de software e jogos, o maior problema é justamente a falta de uma abordagem adequada, para que este empreendimento possa dar certo. Por isto, escrevi este ensaio com o objetivo de trazer algumas idéias “loucas e desvairadas” que tenho sobre o assunto e – quem sabe – ajudar a promover o nascimento de uma nova linha de plataforma e serviços! Espero que tenham gostado… &;-D

Referências