Visão geral
A interface gráfica (ou simplesmente GUI) é um componente essencial para a utilização de um sistema operacional moderno (como o Windows) e as suas aplicações. É através dela e seus elementos visuais (ícones, janelas, botões, barras de rolagens, etc), que podemos interagimos com o sistema e suas aplicações, utilizando para isto dispositivos como o mouse e o touchpad. Em alguns notebooks e outros dispositivos portáteis, a tela do equipamento é dotada de interação touchscreen, o que nos possibilita interagir com a interface gráfica com a ponta dos dedos.
Diferente do Windows, o Linux possui um bom número de interfaces gráficas, o que torna o sistema bem mais flexível em termos de personalização. Podemos escolher poderosas interfaces que promovem um ambiente gráfico completo e funcional, rico em aplicações, utilitários e outros recursos. Ou então, utilizar apenas simples interfaces, as quais apenas possibilita a utilização dos recursos gráficos do sistema, além de entregarem um lançador de aplicativos e um terminal virtual.
Qual delas, seria a ideal para você? Todas elas apresentam as suas vantagens e desvantagens, dependendo do hardware utilizado, da aplicação prática, das necessidades dos usuários e até mesmo, da distribuição em uso (muitas vêm otimizadas para o uso de uma única interface gráfica “padrão”). No entanto, cada uma delas apresentam particularidades tão especiais, que acabam moldando toda a experiência de uso, se bem escolhidas! 😉
O KDE e o GNOME
A grande maioria das distribuições Linux utilizam o KDE e o GNOME, como o seu ambiente gráfico padrão. Além de estarem entre as mais antigas interfaces criadas para este sistema, elas também são ricas em recursos e funcionalidades, tornando-se verdadeiras plataformas integradas para o suporte das aplicações e utilitários do sistema.
O KDE (K(ool) Desktop Environment) foi fundado em 1996 pelo estudante universitário alemão Matthias Ettrich, com o objetivo de prover uma interface produtiva, intuitiva e fácil de usar, em contraste com as interfaces existentes na época (daí o Kool). A versão 1.0 foi lançada em 1998 e ela utilizava como base, a biblioteca gráfica Qt, que na época não era licenciada sob os termos de uma licença de código aberto, sendo gratuita apenas para o uso não comercial. Até antes da ascensão do GNOME, o KDE era considerado o maior e mais poderoso ambiente desktop para Linux, BSD e outros Unix!
Já o GNOME (GNU Network Object Model Environment) surgiu logo depois, fundado em 1997 por Miguel de Icaza e Federico Mena, em resposta ao crescimento e a popularidade do KDE, utilizando a biblioteca gráfica GTK (ao invés da Qt) como base, já que ela é licenciada sob os termos da licença GNU LGPL e por isto, oferecia maior liberdade para a sua utilização (tanto em aplicações livres quanto proprietárias). Por isto, este ambiente desktop foi melhor recebido tanto pelos entusiastas do Software Livre quanto os desenvolvedores das principais distribuições, apesar de ter sido lançado 1 ano depois (1999).
Tanto o KDE quanto o GNOME, passaram por profundas mudanças e reformulações, ao longo destes +25 anos em desenvolvimento. Em 2008, o KDE lançou a versão 4 batizada de “KDE Software Compilation”, trazendo diversas mudanças tanto nas bibliotecas e componentes internos (substituindo a KDElibs em prol da KDE Plataform), quanto nos elementos que compõem a sua interface gráfica (com ênfase ao Oxygen), o que não caiu muito bem no gosto dos usuários e provocou uma migração em massa para o GNOME. Irônicamente, o mesmo aconteceu com o próprio GNOME, ao lançar a versão 3 (no mesmo ano) com profundas reformulações em sua interface, a qual se tornava híbrida tanto para o uso de computadores tradicionais quanto de dispositivos com telas sensíveis ao toque.
O KDE se destaca pelas aplicações feitas exclusivamente para ele, destacando-se o Calligra (pacote de escritório), o KDevelop (IDE de desenvolvimento) e o Krita (editor de imagens), além de diversas ferramentas e utilitários. Já o GNOME, ele não possui tantas aplicações feitas exclusivamente para ele, embora tenha algumas consagradas como o AbiWord (editor de textos), o Gnumeric (editor de planilhas) e promova um conjunto de aplicações e ferramentas essenciais (GNOME Core Applications). No entanto, a grande maioria das aplicações independentes utilizam a biblioteca GTK (e em muitos casos, muitos componentes do GNOME), que as tornam mais adequadas a serem executadas neste ambiente gráfico. Tal como o Windows tem o Windows Explorer (para gerenciar pastas e arquivos do sistema), o KDE tem para esta finalidade o Dolphin e o Konqueror (que também executa funções de navegação WEB), ao passo que o GNOME utiliza o Nautilus exclusivamente para a gestão de arquivos.
Apesar de serem ambientes gráficos poderosos, ambos possuem filosofias bem distintas, em relação a sua filosofia e disponibilidade de recursos: o KDE se destaca por ser o mais rico, flexível e versátil, oferecendo inúmeras opções de ajuste e configuração; já o GNOME abraça a filosofia do “menos é mais”, se concentrando em oferecer apenas os recursos essenciais para os usuários, além de integrar as suas opções de ajuste e configuração em uma única central. Ambos tem os seus prós e contras, chegando a render elogios e críticas em relação as suas abordagens. O próprio Linus Torvalds já fez duras críticas em relação a falta de flexibilidade do GNOME a partir da versão 3 e no entanto, optou por utilizá-lo por ter encontrado os mesmos problemas a partir do KDE 4. Inclusive, muitos forks também nasceram justamente em vista da insatisfação com as mudanças feitas para estes ambientes gráficos, como o Trinity (KDE); o Unity, o Cinnamon, o MATE, o Pantheon e o Deepin (GNOME).
As interfaces gráficas leves
Apesar do KDE e do GNOME serem as mais poderosas interfaces gráficas disponíveis (e muitos optam por chamá-los de ambientes ou plataformas, em vista disto), o Linux também possui uma série de outras interfaces menores e mais leves, ao mesmo tempo em que oferecem um ambiente gráfico belo e funcional. Dentre eles, destacam-se o Xfce, o LXDE, o Enlightenment e o WindowMaker.
O Xfce se tornou o projeto preferido de muitos usuários, por ser considerada o “meio-termo” entre os ambientes desktops KDE e GNOME e as demais interfaces gráficas ultra-leves! Ele também utiliza a biblioteca gráfica GTK como base, além de possuir um conjunto básico de aplicações e ferramentas nativas, ao mesmo tempo que entrega uma aparência clássica, composta pelo menu de aplicações, pela barra de tarefas e pela área de trabalho, além de outros elementos visuais. Destacam-se o gerenciador de arquivos Thunar e o navegador WEB Midori, entre outras ferramentas e utilitários. O Xfce foi um ambiente gráfico bastante utilizado em máquinas dotadas de poucos recursos computacionais, além de ser o desktop padrão de várias distribuições alternativas, como o Xubuntu.
Já o LXDE surgiu com a mesma proposta: ser um ambiente gráfico bonito e funcional, mas voltado especificamente para equipamentos dotados de poucos recursos computacionais. Inicialmente, se baseou na biblioteca gráfica GTK, porém em vista da insatisfação dos desenvolvedores por causa do alto consumo da memória RAM, foi feita uma migração para a biblioteca Qt (tornando-se LXQt). Mais a frente, os desenvolvedores decidiram retornar para o GTK, em vista do suporte nativo para o compositor de janelas Wayland. Para aqueles que não gostarem do Xfce, o LXDE surge como uma excelente opção de ambiente desktop, voltado para máquinas de poucos recursos computacionais.
Enquanto isso, o Enlightenment (ou simplesmente “E”) é uma interface gráfica mais simples, porém construída com uma maior ênfase na beleza e o acabamento visual, suportado temas, trasparências e efeitos visuais impressionantes, mesmo para uma interface que prima pela leveza! Porém, ele também pode ser extendido para se tornar um ambiente gráfico completo e funcional, através da utilização da Enlightenment Foundation Libraries (EFL), a qual provê um conjunto de bibliotecas, frameworks e utilitários nativos para ele, com destaque para o gerenciador de arquivos Fileman. Tal como o KDE e o GNOME, o Enlightenment também possui um fork chamado Moksha, utilizado pela distribuição Bodhi Linux.
Por fim, também não poderíamos deixar de fora o WindowMaker, uma interface gráfica que antes do surgimento e popularização do KDE e do GNOME, era considerada a principal disponível para as distribuições Linux, lançadas a partir da segunda metade da década de 90. Criado pelo brasileiro Alfredo Kojima e inspirado na interface gráfica NeXTSTEP (proprietária, adquirida pela Apple), ele se destaca pelo minimalismo, entregando uma interface com suporte para as áreas de trabalho virtuais, além de um menu flutuante para a inicialização de aplicações e utilitários do sistema. A interface também conta com o utilitário de configuração Wprefs, a qual permite realizar diversas personalizações na sua aparência e usabilidade. Mesmo com o lançamento de ambientes e interfaces mais modernas, o WindowMaker ainda possui uma pequena e fiel base de usuários aficcionadas pela sua simplicidade e praticidade.
Conclusão
As liberdades proporcionadas pelo Software Livre são a base de sua filosofia e existência e por isto, elas também moldam a relação que temos em relação ao sistema operacional em uso. No Linux, a disponibilidade de várias interface gráficas (ao invés de uma exclusiva) torna possível ter a liberdade de personalizar e definir como será a nossa interação com os nosso equipamento de trabalho (ou lazer), seja uma poderosa estação de trabalho, um modesto PC desktop, um notebook ou até mesmo um tablet!
Seja qua for a nossa escolha (KDE, GNOME, Xfce, etc.), estaremos muito bem servidos das aplicações e dos recursos necessários para a entrega de uma boa experiência geral, no que concerne ao uso do ambiente gráfico. E mesmo que venhamos a utilizar as interfaces mais simples, elas também irão promover uma boa usabilidade em geral, desde que sejam respeitadas as suas limitações. Especialmente se eles forem combinados, com uma boa seleção de aplicações!
E de quebra, tudo isto “de grátis”… &;-D