Visão geral
Até o final dos anos 90, apenas um PC desktop poderia se conectar a Internet, através do uso de um modem dedicado para conexões discadas e a “incríveis” 56 Kbps! Porém, com a disseminação das conexões mais velozes, bem como as disponibilização de tecnologias de banda-larga como a ADSL e a cabo (DOCSIS), o compartilhamento do acesso a Internet para dois ou mais computadores, poderia ser feito sem maiores inconvenientes. Para isto, um novo dispositivo de rede seria fundamental: o roteador doméstico!
Por se tratar de um equipamento voltado para o uso residencial, estes roteadores em geral são dispositivos mais simples, dotado de especificações de hardware “boa o suficiente” apenas para atender as necessidades dos usuários domésticos, além de uma interface gráfica acessível através de um navegador WEB, possibilitando a realização dos ajustes e configurações necessários para compartilhar a conexão (até então, o principal propósito deste equipamento).
Mas diferente dos demais produtos e serviços de tecnologia, os roteadores domésticos não tiveram uma evolução considerável ao longo dos anos. Eles ainda consistem basicamente em um dispositivo que oferece opções de conectividade LAN e WAN, tanto cabeada (Ethernet) como sem-fio (Wi-Fi e 3G/4G/5G), embora a capacidade de tráfego tenha aumentado bastante nestes últimos anos. Já os serviços integrados, eles continuam sendo “os mesmos de antigamente”…
Então, o que esperar dos futuros roteadores domésticos?
Recursos e serviços
Apesar desta classe de dispositivos oferecerem bons serviços dentro da sua proposta, existem muitos recursos e funcionalidades que poderiam ser integrados a eles, tornando-os equipamentos mais completos e bem dotados. Alguns deles já existem há tempos e deveriam ser aperfeiçoados, para entregar uma melhor experiência de uso geral, ao passo que outros serão inéditos e certamente muito bem vindos, sob o ponto de vista de praticidade e facilidade de uso.
Eis (na minha opinião), os recursos em que poderíamos ter, para tornar estes equipamentos bem mais interessantes…
Armazenamento externo
O armazenamento externo é o principal deles! Apesar de já existirem roteadores dotados de conexões USBs para o compartilhamento de impressoras e HDs externos, em geral a maioria deles oferecem poucas opções de ajustes e configuração, para oferecerem um serviço melhor. Por exemplo, a criação de contas de acesso, a definição de quotas de armazenamento, a limitação da taxa de transferência, e o estabelecimento e políticas de acesso, são os principais pontos em que os dispositivos atuais deixam a desejar!
Além disso, o roteador poderia se tornar também uma excelente servidor de arquivos, promovendo recursos e funcionalidades encontrados somente em dispositivos dedicados como NAS, embora com menos robustez em vista da necessidade de manter estes dispositivos acessíveis. Em geral, os usuários domésticos não realizam o backup de dados e por isto, seria bem interessante ter um dispositivo integrado que ofereça este serviço, além de ser controlado por aplicações instaladas no próprio sistema operacional!
Integração com Box TVs
Em geral, os dispositivos que integram funções de “inteligência” para TVs “burras”, necessitam se conectar ao roteador doméstico para dispor de conectividade com a Internet. O problema é que alta demanda de tráfego acaba influenciando negativamente na execução de outras atividades, como a navegação na Internet e a execução de jogos, por parte de outros usuários que fazem o uso do serviço. Não raro, muitas vezes estes dispositivos precisam dispor de conexões cabeadas, para minimizarem os problemas de latência.
Ter um roteador doméstico que também execute funções típicas de um box TV seria bem interessante, pois além de simplificar a vida do usuário (já que terá apenas um dispositivo ao invés de dois), também possibilitaria dispor de ajustes específicos para gerenciar, delimitar e/ou priorizar o tráfego, entre este aparelho e os demais usuários, bem como promover políticas de qualidade de serviço. Como muitos destes dispositivos também suportam joysticks e jogos multiplayer, a latência também seria bastante reduzida para esta aplicação!
Políticas de segurança avançadas
Os roteadores domésticos tradicionais já oferecem alguns recursos para lidar com as ameças de segurança, como a ocultação através da tradução NAT, o bloqueio de conexões externas através de firewall e criptografia para conexões wireless. No entanto, eles são bastante limitados quanto a segurança interna da rede! No máximo, oferecem apenas alguns recursos como a filtragem MAC.
Um dispositivo baseado no sistema operacional Linux teria plenas condições de executar ferramentas e serviços disponíveis para este sistema. Por exemplo, poderíamos contar com um IDS/IPS para monitorar as ameaças na rede interna, bem como um servidor de autenticação RADIUS para promover a gestão dos usuários locais (especialmente para o uso da rede wireless). Por fim, um servidor proxy mais sofisticado para realizar a filtragem de conteúdos acessados na WEB fecharia o pacote de serviços a oferecer!
Controlador para smart-home
Nestes tempos de Internet das Coisas, cidades (e casas) inteligentes e automação “de tudo o que for possível”, dispor de um controlador “inteligente” será fundamental para gerenciar todos os eletrônicos residenciais: detectores, lâmpadas, termostatos, etc. Para variar, a conexão com este controlador certamente deverá ser feita através de um PC desktop, notebook ou smartphone, o que nos tornará dependente de uma aplicação dedicada para este propósito. Não seria mais fácil ela estar embutida diretamente no roteador?
Roteadores IoT já existem no mercado e no geral, são dispositivos dotados de hardware mais qualificado para lidar com as requisições em tempo real e designar redes locais distintas para separar o tráfego entre os hosts, além de serem relativamente caros e ainda dependerem de um controlador para o gerenciamento da infraestrutura. Se eles pudessem vir com funções de controle integradas e oferecerem uma interface mais simplificada (seja através do acesso WEB ou a partir de uma tela LCD embutida), facilitaria muito a vida dos usuários domésticos!
Suporte para aplicações
Por ser um computador otimizado para executar funções especiais e dispor de um sistema operacional, um roteador doméstico poderia suportar aplicações específicas designadas para ele, como qualquer outro equipamento. Assim, poderíamos acessar a sua interface WEB e através de uma loja online personalizada, instalar e executar as aplicações extras para prover os serviços desejados!
Utilizar um sistema operacional popular como o Android (ou criar algo derivado e compatível com ele) seria uma excelente escolha, devido a maturidade alcançada, ao grande suporte para as aplicações baseadas no formato APK e por fim, a existência de um grande número de ferramentas nativas para este sistema, o qual o tornariam flexível e versátil para atender a várias necessidades. Ou ainda, uma distribuição Linux otimizada para suportar módulos que por sua vez, entreguem recursos e funcionalidades extras para o dispositivo!
Que tal montar o seu próprio roteador?
Obviamente, este futuro roteador hipotético não irá integrar todas as funções acima relacionadas, dada a complexidade e os custos envolvidos. E mesmo que fosse posto à venda dispositivo similar por um preço “justo”, muitos certamente não iriam se interessar, seja pelo alto valor do produto ou pela dificuldade de operá-lo. Então, será que poderíamos construir o nosso próprio roteador?
A Raspberry Pi é uma fundação britânica, que desenvolve e comercializa o Raspberry Pi, uma placa eletrônica compacta e dotada de todos os componentes necessários, para entregar um sistema computacional completo e funcional. Ela é baseada em um SoC ARM e também dispõem das conexões necessárias, para conectar-se a uma grande variedade de dispositivos e periféricos. Por fim, ela suporta tanto conectividade cabeada quanto sem-fio, oferecendo um belo leque de recursos para a construção do nosso próprio roteador!
Poderemos realizar a aquisição de componentes adicionais, que vão desde placas de expansão a gabinetes especiais. Neste conjunto, podendo encaixar componentes como o armazenamento externo, o modem 4G/5G, as antenas, os controladores, as telas LCDs, etc., para a construção do hardware necessário para a montagem do nosso roteador personalizado. Dado a grande popularidade do Raspberry Pi, das diferentes configurações de placas e a incrível quantidade de acessórios disponíveis, podemos dizer que o céu é o limite!
O mesmo se dá em relação ao software: o Raspberry Pi OS é o sistema operacional oficial (baseado na distribuição Debian), o qual provê o suporte de um ambiente desktop simples e funcional para o dispositivo, além de uma série de pacotes disponíveis no seu repositório. Além dele, as principais distribuições Linux já provêm suporte para este hardware, com destaque para o próprio Android! Obviamente, quanto mais sofisticado for este roteador personalizado, mais conhecimento técnico será necessário para realizar as implementações necessárias e assim, integrar todos os serviços desejados.
Conclusão
Qual será o futuro dos roteadores domésticos? Eis, uma questão que há tempos, vem martelando na minha cabeça e, apesar de não ser otimista em relação a sua evolução (ou revolução), torço para que esta classe de dispositivos se reinvente e ofereça bem mais serviços e recursos, além de apenas compartilhar a conexão com a Internet. No final das contas, todos sairão ganhando: usuários, fabricantes, provedores e principalmente, os técnicos e administradores!
Senão, irão se tornar belas peças de museu… &;-D