Quem não comete erros, deslizes e equívocos na prática da profissão?

Há muitos anos, fui dar uma “olhada” em um PC de uma amiga. Na época, ela era dona de um desktop dotado da CPU Pentium-MMX (200 MHz), com 32 MB de RAM, 6.4 GB de “winchester” e uma fonte de alimentação AT num estado simplesmente lamentável (meu antigo equipamento, que havia doado para ela). O reparo a ser feito estava na simples substituição da fonte AT. Mas, ao ligar os cabos na pinagem do botão liga/desliga, por descuido inverti aquele “esqueminha” de ligação branco/azul, marrom/preto. Resultado: foi uma fumaceira só…

Quem é que não comete erros na prática da profissão? Por mais inteligente, sagaz, capacitado e cuidadoso que o profissional seja, não dá para prever todas as possíveis ocorrências, bem como estar atento à todo o instante. Claro que muitos erros poderiam ser simplesmente evitados. Por exemplo, se eu tivesse observado mais atentamente esse esquema decalcado na fonte de alimentação (além de ter aprimorado meus conhecimentos técnicos em eletrônica), não teria invertido os cabos e provocado o curto-circuito que quase inutilizou o modesto equipamento!

Outra vez, não consegui resolver um caso onde o drive leitor de CD não realizava a leitura de uma mídia de instalação do Ubuntu, uma distribuição popular que utilizo atualmente em PCs de clientes. Testei os mesmos componentes em outro PC (que por sua vez, funcionou bem), reinicializei a BIOS, fiz uma inspeção geral na placa-mãe, enfim… fiz de tudo! No entanto, só mais tarde descobri que a fonte estava ajustada para funcionar em redes de 220V ao invés de 110V…

Mas destas “toupeirices” e “relinchadas”, a maior delas foi quando precisei substituir um módulo de memória defeituoso em um PC desktop de difícil localização, onde a mesinha que comportava os equipamentos se situava entre um sofá e uma parede. Lá vou eu, me abaixar para desplugar os cabos e puxar o gabinete. Para complementar o caso, não havia aterramento para as instalações elétricas da residência; sem querer, encostei o lábio inferior na lateral da carcaça e tomei uma forte “beliscada”, sem contar a repentina reação de me levantar rápido e quase ter batido a cabeça na base da mesa.

Até o presente momento, são apenas estes os erros que já cometi e que ainda me lembro bem. Sei que muitos dos leitores deste site vão questionar se foram mesmo apenas estes “pequenos deslizes”, já que existe a possibilidade do autor (aqui) se reservar a contar os casos mais vergonhosos. Vai ver, senti-me tão envergonhado destes polêmicos incidentes, que acabei tendo uma espécie amnésia, o que simplesmente me impede de contá-los. Ou não…

Da mesma forma que cometi meus deslizes, também assisti colegas de profissão pagarem seus micos. Alguns foram engraçados, enquanto que outros foram tristes, sem contar ainda aqueles inúmeros outros que resultaram em prejuízos e tragédias pessoais. Vi até mesmo erros que não foram tão “errados” assim (mas que tiveram penalidades severas), onde muitos cometiam certos deslizes mais por inocência e ignorância, a que desleixo ou qualquer outro motivo, para que ele seja considerado “culpado de fato”. Para outros casos, culpados foram “encontrados”, tal como acontece com muitos estagiários, que são considerados vulgarmente como “o elo mais fraco da corrente”. Quem um dia já foi estagiário, sabe perfeitamente do que estou falando!

Quantos aqui já não conheceram algum infeliz que tentou recuperar as informações de um HD danificado? Ou então, simplesmente resolveu formatá-lo, presumindo que o dono do equipamento já havia providenciado o backup? Já soube da história de um caso muito sério numa instituição, onde um fiscal de “sei-lá-o-quê” (mas importante) entregou o seu notebook para reparo. Para a sua sorte, havia um outro camarada na equipe que, ao perceber a falha do amigo, providenciou uma clonagem completa do HD formatado e utilizou ferramentas especiais para a recuperação de dados apagados. Ah, só para constar: HDs defeituosos devem ser enviados para laboratórios especializados em reparos. Sem discussão!

Demissões? Algumas (para não dizer muitas) já aconteceram e que tive a infelicidade de presenciar. Por exemplo, lembro-me de um caso de um colega que resolveu entregar ao chefe, uma planinha com nomes, matrículas, cargos e salários, em um diretório da rede onde todos tinham acesso (e de fato, acessaram aquele documento). Outros menos graves, mas extremamente repetitivos, são daqueles que conseguem encontrar uma forma de furar o bloqueio do proxy para acessar sites de conteúdo adultos, bem como a troca de belas fotos com o uso do e-mail da empresa, para depois serem repreendidos. Sem comentários…

De todos, os mais hediondos são aqueles praticados por má-fé ou por interesses ilícitos, com o objetivo de tirar vantagens e prejudicar terceiros. Uma vez, reparei um PC desktop problemático e me programei para entregá-lo numa tarde, com uma certa urgência. Chegando lá, eis que o equipamento simplesmente não funcionava à contento, com travamentos e instabilidades. Ao voltar com ele para o laboratório (depois de ½ dúzia de reclamações), percebo que a maldita fonte de alimentação estava ajustada para trabalhar em 220V. Bem, como eu já havia me certificado de que ela estava ajustada em 110V, tenho a certeza absoluta de que fui sabotado. E a questão é: por quem? Embora tivesse minhas desconfianças, não havia como provar o “delito”!

Mas o pior de tudo isso, é saber que as pessoas à sua volta o considerem tão bem (alto estima), à ponto de não aceitarem suas imperfeições. “Você é o cara, não dá para acreditar que não saiba disso”! Não sei o quanto à vocês, mas já deixei muita gente boquiaberta por dizer que não sou especialista em eletrônica, embora fosse visto como o “cara que resolve todas as paradas do computador”. Bem, quase todas. Mas até as pessoas à minha volta compreender as minhas limitações e os possíveis equívocos que posso cometer por causa delas (o que necessáriamente não quer dizer que eu não tenha competência), passei a ser visto com desconfiança e ter a reputação profissional um pouco manchada.

Por fim, vai haver ocasiões em que iremos nos esbarrar algum problema especial, sem uma solução ou pelo menos, que não a conhecemos. Mas para os leigos que não entendem, o ponto de vista deles é que você simplesmente falhou; no entanto, eles se resignam em aceitar seus limites quando buscam outros profissionais que também não conseguem resolver exatamente o mesmo problema! O “causo” em questão foi o de um programinha de fiscalização escrito em Java que teimava em não funcionar, mesmo já tendo avaliado as versões do JRE instaladas e as configurações do navegador. Nem o técnico da Velox e o atendente do banco responsável pelo desenvolvimento do programa, conseguiram resolver a questão. Mesmo assim, meus serviços continuaram sendo requisitados. Menos mal…

Tão importante o quanto evitar os erros, é aprender com eles… &;-D