Visão geral
Desde o início da década, a Sony, a Microsoft e a Nintendo travam uma grande batalha pela preferência do público gamer hardcore, para a adoção de suas plataformas de jogos e utilização dos serviços que oferecem. E desde que a Nintendo decidiu se distanciar deste público e se focar numa classe de jogadores mais casuais, esta batalha se transformou em um grande duelo entre a Sony e a Microsoft…
E tem sido assim desde a 2a. geração do PlayStation. Até o presente momento, a Sony é o grande nome do mercado, pois venceu com folga o primeiro duelo com a Microsoft, entre o PS2 e o Xbox original; já entre o PS3 e o Xbox 360, houve um empate técnico (embora o Wii tenha liderado as vendas nesta geração, ele é um console que não “pertence” a esta categoria de usuários); por fim, a Sony novamente venceu sem maiores dificuldades, o duelo entre o PS4 e o Xbox One (mais por falhas estratégicas da Microsoft a que por próprio mérito). No geral, a Sony possui o maior número de consoles vendidos!
Durante este período, os ânimos se acirraram entre os fãs de suas respectivas plataformas. Em fóruns e mídias especializadas, é comum ver os “pôneis” e os “caixistas” trocarem farpas e ofensas entre si, tornando praticamente inviável um bom debate técnico. E infelizmente, esta rivalidade acabou inteferindo bastante em muitas análises feitas para comparar as especificações técnicas dos futuros consoles Xbox Series X e PlayStation 5.
Por isto, decidi escrever este artigo. Diferente das análises disponíveis no mercado, tentarei realizar comparativos e ponderações de forma mais isenta possível, além de trazer a luz aspectos importantes de ambos os consoles, os quais foram praticamente ignorados. E o mais importante: deixar um pouco de lado a ênfase dada a “força bruta” (potência de cálculo e outras especificações avançadas) dada pela mídia e comunidade de jogadores e focar em outros aspectos importantes, mas que muitas das vezes se passa por “desapercebidos”… 😉
Especificações técnicas
Eis, um breve resumo das especificações que irei analisar…
Componentes | PlayStation 5 | Xbox Series X |
Processador (CPU) | AMD com arquitetura Zen 2, octa-core a até 3,5 GHz | AMD com arquitetura Zen 2, octa-core a 3,8 GHz |
Chip gráfico (GPU) | AMD com arquitetura Radeon RDNA 2 com frequência de 2,23 GHz 10,28 Tflops com 36 unidades de computação | AMD com arquitetura Radeon RDNA 2 com frequência de 1,825 GHz 12 Tflops com 52 unidades de computação |
Memória RAM | 16 GB GDDR6 a 448 GB/s | 16 GB GDDR6 (10 GB a 560 GB/s e 6 GB a 336 GB/s) |
Armazenamento interno | SSD de 825 GB, 5,5 GB/s (tamanho original) ou 9 GB/s (com compressão) | SSD de 1 TB, 2,4 GB/s (tamanho original) ou 4,8 GB/s (com compressão) |
Expansão | HD externo USB ou SSD NVMe (PCIe 4.0) com validação da Sony | Placa opcional de 1 TB da Seagate ou HD externo via USB 3.2 |
Obviamente, deixei algumas especificações de fora, por elas serem praticamente equivalentes, como o suporte a drives Blu-ray 4K UHD, a resolução de 4K e o uso da tecnologia gráfica Ray-Tracing.
Processador (CPU)
Ambos os consoles utilizam a mesma arquitetura de processadores da AMD (baseados na Zen 2) e apresentam pequenas otimizações específicas para o console. Porém diferem-se na velocidade de clock destas unidades: enquanto a CPU do Xbox chega a 3.8 GHz, a CPU do PlayStation limita-se a 3.5 GHz. Ambas possuem 8 núcleos e suportam a tecnologia SMT (que possibilita a execução de várias threads simultâneas, tal como a Intel com a sua Hyper-Thread).
Porém, alguns detalhes importantes se passam por desapercebidos: no Xbox, se os jogos utilizarem a tecnologia SMT, o clock máximo será de 3.6 GHz, ao passo que no PlayStation o clock máximo será de 3.5 GHz (independente de utilizar ou não o SMT). Apesar da pequena diferença de clock, no geral ambas as CPUs são equivalentes performance e poder de processamento. Para variar, acabam não interferindo muito na geração de quadros por segundo.
Veredicto: empate! Embora tenha a sua importância, o aumento do clock possui pouca influência no desempenho geral dos jogos e, se não bastasse a pouca diferença entre as duas, ainda estamos analisando essencialmente a mesma arquitetura.
Chip gráfico (GPU)
Tal como na unidade de processamento, ambos os consoles também utilizam a mesma arquitetura gráfica da AMD. Porém, estas unidades não só se diferenciam na velocidade de clock, como também na quantidade de CUs (Computer Units, por favor não confundir) e na quantidade total de cálculos matemáticos realizados.
O Xbox possui uma unidade mais parruda, com 52 CUs e 12.8 teraflops de processamento; já o PlayStation fica um pouco mais atrás, com apenas 36 CUs e 10.28 teraflops. Porém, a unidade gráfica da Microsoft alcança o clock máximo de até 1.825 GHz, ao passo de que a unidade gráfica da Sony chega a interessantes 2.23 GHz (embora pareça pouco, as GPUs possuem mais dificuldades de alcançarem altos clocks, devido a natureza paralelizada da arquitetura)!
Muitas análises apontam a GPU do Xbox como “vencedora” incontestável nesta comparação, mas não vejo bem desta forma. Em geral, os desenvolvedores tendem a se concentrar na otimização gráfica de seus títulos para os consoles com menos poder de processamento, tal como aconteceu na geração passado. O problema é que a diferença de poder de processamento entre o Xbox One e o PlayStation 4 é de quase 50% (1.23 vs 1.84 teraflops), o que obrigava a redução da resolução final no console da Microsoft para garantir que ambos os jogos rodassem com a mesma qualidade visual. Como esta nova geração apresenta uma diferença apenas ligeira (+/-20%), certamente a resolução padrão de 4K deverá ser mantida e com as atenções para a otimização voltada para o PS5, o que será bom para a Sony! Em suma: jogos definidos para determinada resolução e taxas de atualização serão “iguais” em ambos os consoles!
No entanto, sabemos perfeitamente que os jogos possuem taxas variáveis de FPS (quadros por segundos) e adotam valores padrão de 30 e 60 FPS. Neste cenário, “pequena” diferença de poder de processamento em prol do Xbox Series X certamente será preponderante para garantir uma taxa de quadros mais estável, se comparado com o PlayStation 5. Muitas análises consideram o clock elevado da GPU da Sony com fator de compensação para a menor potência gráfica, mas se esquecem de que em computação gráfica, a capacidade de cálculo paralelizado é de extrema importância para a performance e desempenho geral da unidade gráfica. Neste caso, as 52 CUs do Xbox certamente representarão uma boa vantagem em comparação as 36 CUs do PlayStation (mesmo rodando com clocks mais baixos), em jogos com grandes cenários e diversos elementos presentes no jogo, o que será bom para a Microsoft!
Veredicto: Microsoft, mas com ressalvas: desde que estas unidades não tornem caro o custo total do console em questão, pois provavelmente o área da pastilha (die) será maior. Caso contrário, consideraria como empate o embate com a Sony (especialmente se esta última entregar um produto com valor US$ 50,00 abaixo).
Memória RAM
Apesar de ambos os consoles oferecerem 16 GB de memória RAM e estas serem baseadas na tecnologia GDDR6, as implementações de cada console se diferem radicalmente neste aspecto: enquanto que a Microsoft apresenta dois arranjos distintos (6 GB com taxa de transferência a 336 GB/seg. e outro de 10 GB com taxa de transferência a 560 GB/seg.), a Sony utiliza uma única solução integrada de 16 GB com taxa de transferência a 448 GB/seg.).
À primeira vista, a Microsoft vence no quesito de performance. Porém, o design adotado em questão certamente trará problemas relacionados a custo de produção e dificuldades técnicas para a otimização dos jogos, devido a complexidade do subsistema de memória RAM. Já a Sony não possui um espaço reservado de 10 GB com alta capacidade de transferência (na qual certamente será utilizada pela GPU e pode fazer uma boa diferença na performance geral da parte gráfica), mas apresenta um projeto mais simples e elegante, que certamente contribuirá para os custos na fabricação do console e tornará mais fácil a vida do desenvolvedor de jogos.
Veredicto: Sony, mas com ressalvas: se a taxa de transferência não representar uma diferença gritante em termos de desempenho, se comparada com a solução da Microsoft e refletir no custo total do produto, tornando-o mais em conta em vista da simplicidade e otimização do projeto.
Armazenamento
A Microsoft irá oferecer 1 TB de armazenamento, ao passo que a Sony entregará “apenas” 825 GB, ambas baseadas em SSD (que utiliza as memórias eletrônicas flash ao invés dos pratos magnéticos utilizados pelos discos-rígidos). No entanto, apesar da diferença de quase 20%, a Sony entregará o dobro da taxa de transferência de dados (5,5 e 9 GB/seg. vs 2.4 e 4.8 GB/seg.)!
À primeira vista, a Sony vence no quesito de performance. No entanto, baseando-se na promessa dos jogos serem carregados praticamente sem loadings ou ainda estes acontecerem em frações de segundos, que diferença faz esperarmos por alguns meros segundos a mais? Além disso, estas unidades não irão reduzir o tempo de instalação dos jogos, uma vez que o gargalo continuará sendo a velocidade de transferência do drive óptico ou da conexão com a Internet, por serem mais lentas que as unidades em questão.
Veredicto: Microsoft! Neste aspecto, a solução da Microsoft é mais interessante, por apresentar um equilíbrio entre boa performance e custo mais acessível, pois um SSD com o dobro de taxa de transferência certamente não será muito barato…
Sobre a expansão…
Por hora, deixarei de lado o quesito expansão, por não dispor de dados técnicos suficientes para uma análise mais aprofundada. Além disso, as poucas informações liberadas já deixam claro que ambos os consoles não apresentam vantagens consideráveis de um em relação ao outro. Por fim, a expansão da capacidade de armazenamento é opcional, ficando ao cargo do usuário adotá-la (ou não).
Veredicto: empate. E sem comentários…
Conclusão
No quesito hardware, qual será o grande vencedor nesta nova geração? Pessoalmente, acredito em um empate técnico, embora sobre determinados aspectos, um ou outro console vença no comparativo. Porém, diferente das gerações anteriores, ambas as empresas estão focadas em dar o melhor de si para conquistar esta geração e certamente não irão cometer os vacilos que culminaram em prejuízos não só para elas, como também para toda uma classe de jogadores fãs, entusiastas e aficcionados por jogos eletrônicos!
Por outro lado, aspectos que vão além do hardware podem ser fundamentais para a batalha que ambos irão travar pelos próximos anos: acessórios, títulos exclusivos, serviços agregados, disponibilidade, suporte técnico e por aí vai. Mas estes tópicos serão analisados futuramente em uma próxima oportunidade… &;-D