Nos anos 90, os pagers eram os dispositivos utilizados para receber mensagens eletrônicas, numa época em que os smartphones não existiam e os celulares nem sequer, eram acessíveis. O seu funcionamento se baseia numa infrastrutura, na qual um centro de controle era estabelecindo para gerenciar as chamadas dos usuários (ligações telefônicas), que por sua vez solicitavam o envio das mensagens desejadas para os pagers dos destinatários, através de um sistema de transmissão via rádio. Embora tenham sido bastante úteis na época, eles foram sendo deixados de lado por causa da conveniência e praticidade dos celulares…
“Hundreds of pagers blew up at the same time across Lebanon on Tuesday in an apparently coordinated attack that targeted members of Hezbollah, an Iranian-backed militant group in the region, Lebanese and Hezbollah officials said. The attack came a day after Israeli leaders had warned that they were considering stepping up their military campaign against Hezbollah, which has been firing on northern Israel since last year in solidarity with Hamas and its war with Israel in Gaza.”
— by New York Times.
Apesar de serem dispositivos obsoletos, eles ainda continuam sendo utilizados em vista das suas particularidades. No caso do Hezbollah (uma organização política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita, conforme as definições do Wikipedia), o seu uso se justifica em vista da possibilidade dos seus membros serem rastreados, em comparação aos celulares e smartphones. Diferente deles, os usuários de pagers não podem ser localizados, já que estes dispositivos não possuem recursos de geolocalização. Mas nada disso impediu que os membros desta organização sofresse um ataque devastador!
Um ataque coordenado promoveu a explosão de centenas de pagers, com o objetivo de ferir os membros do Hezbollah. O evento também trouxe um grande caos para a população local, em vista da grande quantidade de pessoas afetadas de forma direta e indireta. Para se ter uma idéia da dimensão do ataque, mais de 2.700 pessoas ficaram feridas, sendo que 200 delas se encontram em estado crítico e 9 vieram a óbito, como resultado destas ações. Em geral, as vítimas apresentavam ferimentos nos rostos (principalmente nos olhos), nas mãos e nos estômago, que além de severas também causaram mutilações.
Segundo a reportagem, os líderes de Israel são os principais suspeitos por terem orquestrado o hediondo ataque, já que (coincidentemente) eles planejavam intensificar a sua campanha militar contra o próprio Hezbollah, em vista das suas recentes ações contra o estado (em apoio ao Hamaz). Por isto, a organização não só fez as acusações formais sobre o responsável pela autoria do ataque, como também prometeu uma retaliação. Apesar do exército israelense ter se recusado a fazer comentários sobre o evento em questão, muitos especialistas independentes acreditam na alta probabilidade de que Israel de fato tenha promovido o ataque.
Para nós (especialistas em Segurança Cibernética), tais eventos nos possibilitam tirar algumas reflexões relacionadas a Segurança da Informação: nem todo ataque se vale do uso de recursos tecnológicos modernos ou avançados. Além disso, muitas infraestruturas legadas acabam trazendo uma série de limitações, que impossibilitam realizar uma gestão eficiente dos recursos oferecidos por ela. Por fim, o mais importante: “nem tudo é o que parece”! Apesar das suspeitas em torno dos líderes de Israel pela orquestração do ataque, sempre teremos que considerar a possibilidade de terceiros “lucrarem” com os conflitos gerados.
Especialmente quando as conclusões são para lá de óbvias… &;-D